Avesso
Avesso é a parte oposta
ao lado direito, ao lado pré estabelecido como principal. Parece-me que bastidores
são o avesso de um espetáculo, de um palco, de uma costura ou um bordado...
Comumente observo os
avessos dos tecidos para roupa do vestuário ou de cama, ou de mesa. Nas
confecções o avesso é o lado escondido, o lado da trama, da tecelagem do bordado.
O inverso do lado comumente dito de “direito”, sugestivo de que avesso é o lado
errado, o feio, o escondivel.
Particularmente entendo
que avesso é um documentário da verdadeira face de uma história, de uma
essência, de um trabalho. Coisas têm avesso, pessoas, bichos, árvores. Tudo tem
avesso. É no avesso que se identifica a realeza das minúcias de uma trama, o
passo a passo da composição do roteiro do “direito”.
Avesso é um mundo
condenado para permanecer oculto, fora de cena, calado, quieto. Um personagem
de total beleza ímpar. Uma indiscutível nua verdade embutida pelo desprezo,
escondida por hipocrisia.
Verdades me aguçam a
fazer justas solenidades de reconhecimento, de forma que coroo o avesso,
tranquila e segura, com base em meu critério pessoal, intelectual e filosófico.
Elejo o avesso como direito, como público, como tese, documento ocular que
testemunha linda nudez que definitivamente não corresponde ao errado.
Descobri tantos avessos
belíssimos, como por exemplo, o avesso de mãe.
O avesso de mãe é
inusitado modelo de benevolência. Tipo riacho de abundante bálsamo incentivador
para a construção do bem. Avesso maternal é um aparelho musical emanando
cânticos, ecoando flautas e canto de passarinhos; Um horizonte onde serena o
olho do sol, onde fulgura o amor na resplandescência do tacho de reluzente ouro
do arco-íris após a densa cortina de chuva; imenso jardim florido onde vadia
cheirosa e fresca brisa coreografando revoadas de coloridas borboletas.
Avesso de mãe é
celeste. Aconchegantes quartos lunares forrados de estrelas, e perfumados
travesseiros florais tecidos de verde esperança. Avesso de mãe tem caminhos
limpos, límpidos lagos azul e fartura de pomares maduros.
Penso que meu avesso é
pespontado de mentira. Longos fios de cores intensas e quentes saltam e, sem
constrangimento, invadem o lado direito para exercer a liberdade de expressão,
hastear bandeira de puro sentimento, declaração de incondicional sentimento por
meus filhos.
Mães mentem, frisam
detalhes de seus filhos, tipo olhos, corpo, lábios, cabelos, afirmando que são
os mais belos do mundo. Inocente afirmação de que seus filhos são os seres mais
lindos do mundo. Do mundo!
Pensando bem, isto é a
mais pura verdade maternal, afinal, o mundo de mãe é tão resumidamente povoado
única e exclusivamente por seus filhos.
Vanda Ferreira
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