terça-feira, 17 de setembro de 2013

"DE POETA E LOUCO, TODO MUNDO TEM UM POUCO, EXCETO EU"

De poeta e louco,
Todo mundo tem um pouco, exceto eu.
Vanda Ferreira

  

Acredito que o famoso ditado do pensador Philippe Sotte: “De poeta e louco todo mundo tem um pouco”, foi adotado em todos os continentes e repetido por todas as gerações em discursos particulares e públicos.

Indiscutível que todos temos, mesmo, pelo menos uma dose particular de poeta. Também acredito que todo mundo tem uma especial reserva de loucura, para uso específico em inusitadas situações.

Bastam experiências profundas, para que o veio poético aflore e a poesia salte dos olhos, pinte em um texto de carta ou de mensagem, ou seja soprada numa prosa triste ou alegre.

Basta a expressão de amor sentido, um canto motivado por paixão, um desapego ou chamego, um exagero qualquer, para extravazar a mesmice e sangrar a especial porção da reserva que jorra o inédito, o inesperado, o surpreendente estado de graça rotulado de “loucura”. E, assim, por meio do advir de um novo ritmo, ou surgimento de um inédito tom ou nuance, expedem atestados de loucura.

Sim, é verdade! Todo mundo tem um pouco de poeta e de louco. Exceto eu que muito tenho de poeta e de louco.

Sou desvairada por palavras, por sombras solares e conjunturas celestiais. Tenho dose exagerada de loucura para experimentar chuva, escutar silêncio, ouvir cigarras, fugir da mesmice, driblar arapuás, e caçar ideias em beira rio, em lenha queimando, em nuvens de questionamentos. Sou doidamente apaixonada por formas, movimentos, folhas secas, vento, bichos, árvores, cores...

Pulso sagrada desobediência. Inquietação física que produz lentes especiais para desvendar teias construídas nas noites de famintos forasteiros maquiavélicos.

Alimento o banco de minhocas com as supervitaminas do barro, santifico árvores, idolatro pedras e outros elementos. Leio raízes, brechas de luz, cicatrizes da terra.

Poetar é experiência dos olhos, do coração e da pele. Poetar é releituralizar vestígios, é abrir feridas, sedar dores, roteirizar tatuagens, viver a nudez da realidade.

E cuido loucamente da saúde de minha doidura. Asseio o coração, faxino o cérebro, assopro feridas e organizo o cerne em posição vertical para alcançar as lonjuras de amanhã.


Sou um perigo malicioso, invisto em sonhos e construo importâncias com versos e prosas malucas. 

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Poema "O caminho da paz é campestre"

O caminho da paz é campestre
Vanda Ferreira

Garças brancas revoam silêncio azul.
Enormes dentes jacarezenses tomam vento;
Rimados versos da natureza fervilham na fingidez fluvial;

Árvores entoam úmidas canções,
aves trinam em alegria sustenida
para perpetuar praia-de-bichos,
passeio de murmurinhos,
espetacular balé da mata.

Rastejam poemas,
seivadas serpentes,
- encorpadas enxurradas tingidas de por-de-sol - 

Tatuagens na liberdade nua da terra
mapeaiam dançante capinzal de pés de luxo.

Ecos matutos, ecologicamente corretos,
Protegem segredos do seco-mar encharcado de poder.

Roncos de bugios rasgam os perigos noturnos
das aloiradas madrugadas pantaneiras,
esconderijo do útero da terra.

Lambeção milagrosa refaz sucumbida morte,
valente desejo de semente processa desfolhamento
para nutrir embriões fecundados ao som de poéticos uivos Guarás.

Sábia natureza
Redondamente enquadra
inverno, primavera, verão e outono,
Aliança nuvens carregadas de mensagens.

Vida beijada por beija-flores,
perfuma versos,
tinge de verde-esperança,
rima coração e canção,
passarinho e ninho;
alegria, cantoria, folia, formação de família.
Celestialidade poesia, seja noite, seja dia.

Luas hipnóticas, cheias de mistérios,
Corujas, grilos, cigarras,
anfíbios com chocalhos na garganta,
cantata para a entrada, não solitária, da noite,
onde o entardecer rumina roteiro,
Processa comunicação,
esturros dos cílios da mata.

Cisma grafia de onça, pinta Jaguatirica

Caminho matuto, Tatu, Tamanduá,
inescrupulosidade brejeira na estação de Sucuris,
tuiuiús, bagres e olhos d’água.

Lenta mastigação de sabores,
fartura de suculências,
delícias na digestão campestre.

Verdejante felicidade borboleteia
no profundo estômago da menina dos olhos do mato.