quinta-feira, 24 de maio de 2012
terça-feira, 22 de maio de 2012
ESPUMAÇÃO
Espumação
Inevitável invasão canta
o mar,
segredos
profundos entranham aberto peito,
espuma
sal.
Livre
inquietude lambe imensidão,
desata
ensolarada manhã.
Na
boca do ouvido zumbe azul,
Orações
de céu verde sagra esperança
preces
na concha carnal.
No
início do aclive branco
esquina
liberdade ungida,
estrelas
dançam,
circula
destino em trilha de sonhos ingênuos.
terça-feira, 15 de maio de 2012
Lá do pé de Bocaiuva
Lá do pé de Bocaiuva
Um pé de Bocaiuva é um bosque,
uma floresta, um capão santo. Na
dimensão da verde inquietude é canção, desejo intenso, cortejo do vento,
montanha de fé.
Pé de Bocaiuva é nutrido de
sol. Projeta cinema vivo, com exibição de documentários sobre fauna e flora. Espetáculos
de araras, poéticas orquídeas e pactos de lagartas que fogem em trilha de esperança
para enfurnarem avesso, dormirem lapso limite na sustentabilidade do tronco forte
da Bocaiuva.
Bocaiuva é um pouco uva. Polpa
doce, amarelo-surpresa, alegra rusticidade, exercita alicates-bicoides, apraz
línguas oblíquas, sacia olhos do mato.
Um pé de Bocaiuva é recinto de
banquetes ao ar livre.
Vanda Ferreira.
sexta-feira, 11 de maio de 2012
segunda-feira, 7 de maio de 2012
AVESSO
Avesso
Avesso é a parte oposta
ao lado direito, ao lado pré estabelecido como principal. Parece-me que bastidores
são o avesso de um espetáculo, de um palco, de uma costura ou um bordado...
Comumente observo os
avessos dos tecidos para roupa do vestuário ou de cama, ou de mesa. Nas
confecções o avesso é o lado escondido, o lado da trama, da tecelagem do bordado.
O inverso do lado comumente dito de “direito”, sugestivo de que avesso é o lado
errado, o feio, o escondivel.
Particularmente entendo
que avesso é um documentário da verdadeira face de uma história, de uma
essência, de um trabalho. Coisas têm avesso, pessoas, bichos, árvores. Tudo tem
avesso. É no avesso que se identifica a realeza das minúcias de uma trama, o
passo a passo da composição do roteiro do “direito”.
Avesso é um mundo
condenado para permanecer oculto, fora de cena, calado, quieto. Um personagem
de total beleza ímpar. Uma indiscutível nua verdade embutida pelo desprezo,
escondida por hipocrisia.
Verdades me aguçam a
fazer justas solenidades de reconhecimento, de forma que coroo o avesso,
tranquila e segura, com base em meu critério pessoal, intelectual e filosófico.
Elejo o avesso como direito, como público, como tese, documento ocular que
testemunha linda nudez que definitivamente não corresponde ao errado.
Descobri tantos avessos
belíssimos, como por exemplo, o avesso de mãe.
O avesso de mãe é
inusitado modelo de benevolência. Tipo riacho de abundante bálsamo incentivador
para a construção do bem. Avesso maternal é um aparelho musical emanando
cânticos, ecoando flautas e canto de passarinhos; Um horizonte onde serena o
olho do sol, onde fulgura o amor na resplandescência do tacho de reluzente ouro
do arco-íris após a densa cortina de chuva; imenso jardim florido onde vadia
cheirosa e fresca brisa coreografando revoadas de coloridas borboletas.
Avesso de mãe é
celeste. Aconchegantes quartos lunares forrados de estrelas, e perfumados
travesseiros florais tecidos de verde esperança. Avesso de mãe tem caminhos
limpos, límpidos lagos azul e fartura de pomares maduros.
Penso que meu avesso é
pespontado de mentira. Longos fios de cores intensas e quentes saltam e, sem
constrangimento, invadem o lado direito para exercer a liberdade de expressão,
hastear bandeira de puro sentimento, declaração de incondicional sentimento por
meus filhos.
Mães mentem, frisam
detalhes de seus filhos, tipo olhos, corpo, lábios, cabelos, afirmando que são
os mais belos do mundo. Inocente afirmação de que seus filhos são os seres mais
lindos do mundo. Do mundo!
Pensando bem, isto é a
mais pura verdade maternal, afinal, o mundo de mãe é tão resumidamente povoado
única e exclusivamente por seus filhos.
Vanda Ferreira
FAXINAÇÃO
Faxinação
Minha
mãe é visivelmente preocupada com limpeza. Limpeza da casa, da roupa, da
comida. Mamãe fala de limpeza como se falasse de religião. Enaltece limpeza em
diários discursos, empostando a voz e usando de expressão corporal para
provocar, com excelência, sensibilização e convencimento aos seus entes
familiares do dever e compromisso para com a adoção do costume quanto à higiene
de um modo geral.
Mamãe é insistente com relação à limpeza porque
a trata com uma importância vital. Porque em sua sabedoria trata de certo tipo
de limpeza abrangente à belíssima condição de ser e estar.
A limpeza da qual mamãe prega é mais que uma
limpeza de chão, de móveis, de utensílios e apetrechos. Ela ensina a
importância de sermos limpos. Ela ensina a enxergar com olhos limpos. Ensina
ter boca limpa, pensamento lavado. Ensina varrer o coração, escovar a carne e
ventilar a alma.
Necessário faxinar os olhos, desfazer névoas
que embusteiam a brancura do olhar, a transparência que favorece a leitura do
bem, enxergar benevolências, declamar compaixão, declarar amor, proclamar
preces de solidariedade.
Necessário despoluir, retirar o desprezível,
reciclar certo lixo, poluição vista no
dia a dia, para enxergar as mensagens ocultas em entrelinhas de paisagens, de
jardins, de movimentos que desfilam inescrupulosamente nas vias da vida. É
necessário desentulhar o tapa-olhos para exibir luminosidade interior e
promover leitura constante do slogan “Olhe para trás e siga em frente”.
Higiene bucal é mais que escovação dentária e
uso de produtos dentífricos. Mamãe nos mostra um especialíssimo processo que
higieniza o mal por meio de utilização de imaginário fio dental para descolagem
de palavras negativas, destrutivas, agressivas. Boca suja profere maldições,
fala com diabo... Boca limpa usa vocabulário doce, meigo, amoroso, generoso.
Boca limpa fala com Deus.
O coração, por exemplo, é um tipo de ambiente
público. Um tipo de órgão público, semelhante à mão que exige a aplicação de
severos cuidados com abundância d’agua em contínuas lavagens para a retirada de
possíveis germes a fim de evitar prováveis contaminações. Limpar o coração é
preveni-lo de males contagiosos, tipo malquereres, ódios, desvelos egoísticos,
malvadezas, e até mesmo fulminâncias que assassinariam a generosidade, a
compaixão, o bem-querer e sentimento fraternal.
O pensamento é um poço infinitamente profundo.
Um globo de paredes rugosas, cheias de esconderijos. Um ambiente que exige
esperteza para o devido asseio. Limpar o pensamento exige a parceria do coração
limpo, dos olhos limpos; da boca limpa. Assepsia é, verdadeiramente, o segredo
da integridade individual para promover o bem global.
Evitar danos à integridade pessoal, comunitária
e global é garantido com sistemático processo de limpeza individual. Hoje sei
que devo limpar-me, desfazer de estrumes de meu banco de memórias.
Dedicadamente devo repetir o ciclo da faxina em
mim. Limpeza tem a ver com paz. Limpeza é um fator fundamental para se
estabelecer a paz. De forma que limpeza é uma questão de paz.
Eu exercito faxinas sistemáticas em mim.
Vanda Ferreira
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