O antes e o depois
O depois vem após o antes, é claro, é
óbvio, naturalmente que sim. Mas, apesar da clareza, este
entendimento é de suprema reflexão, em especial sob dois aspectos: o “antes” e
o “depois”. Isto não é brincadeira; não é tão
simples quanto parece, aliás, entendo que é de uma complexidade, há tramas
implícitas, uns quês estremecidos nas profundezas de nossas ignorâncias.
O antes é todo o processo construtivo. O período de
investimento, do cultivo, do plantio. Entendo que o antes é o alicerce do
depois. O antes é um período oportuno, é a chance, a chave, o parto. O antes
requer detalhes, investimentos, estratégias. Não basta plantar. É necessário
adubar, regar, macerar, orar, rogar, e, sobretudo, extirpar as ervas daninhas,
os elementos venenosos, para garantir o sucesso e a realização de propostas que
acontecem na fase propícia para o investimento no “depois”. Durante o
antes sonhamos, projetamos, programamos, imaginamos, vislumbramos.
O “depois” é a safra, a colheita, o consumo, o deleite.
Toda a realidade está no depois. Diremos que o depois é desconhecido, incerto,
talvez previsível. No entanto, apesar de esforços, programação, sensatez e
sabedoria, o “depois” poderá surpreender por motivos totalmente alheios à
proposta do antes.
Foquemos o antes nos preparando para o depois, para o
período subsequente que é o depois. Nos prepararmos é envolvente, é
massacrante, é contorcionante, é excitante, e especialmente
preventivo.
É exatamente no período chamado antes que elevamos nossas
antenas, nossa sensibilidade, nossa fé, e enlevamos-nos com a tal esperança.
É no antes que tomamos o combustível, que alimentamos a
despensa, e produzimos a reserva para os potes de beber, porque
o depois poderá sofrer interferências e nos flagrar com surpresas agradáveis ou
indesejáveis.
O segredo é aliançar-se ao antes e ao depois. Somos a
liga, ou o desande. Até que venha o depois que é o antes do próximo depois do
futuro antes.