quarta-feira, 8 de junho de 2011

Prefácio do livro "PASSAGENS"

Prefácio
Por Delasnieve Daspet*

“Em cada recomeço arrastamos a bagagem
recheada de diversidades sentimentais...”


Vanda fez uma poesia em 21 capítulos.
Abandonou o regime da mesmice métrica e enriqueceu seu trabalho com infinitos recursos de harmonia. O seu livro Passagens é melódico. Uma verdadeira pintura e verdadeira música em forma de prosa.
Inteligente livro de memórias, de saudades, de reconstrução de uma vida, sem passar pela mesmice que as biografias contam.
Ela viaja pelo imaginário de uma antepassada sua, e reconstrói momentos de lirismo surpreendente e apaixonante. A história de uma vida, de seus revezes, de seus amores, dos seus sonhos, dos ganhos e de suas perdas.


“Ao oeste imperava o sol como se fosse
uma lua vermelha, redonda, cheia de acesos segredos querendo jorrar”.



Historias passadas contadas no presente. A linguagem é coloquial. Interior. Verdades que não foram ditas em momento oportuno e que agora chegam, de braços abertos, contadas ao vento, que a reproduz.
Segredos de uma vida, de sentimentos, de alcova trepidam, destruindo as metáforas construídas. Não existe verdade absoluta.



“A vida passava por mim.
Eu simplesmente seguia os ritmos dos passos do tempo
processado por noites e dias”.



Vanda escreveu versos para serem lidos com a alma e não com olhos mudos. Chorou cada palavra, cantou cada verso, pariu cada momento de sua memória, perdoou as loucuras, sofreu as maledicências, ninou a sua história. A ela foi dada a chave do enigma, e, com maestria nos presenteia com estas reminiscências do imaginário de sua bisavó.
Lírica do primeiro verso ao final do 21º Capítulo, Vanda criou frases que são completas poesias. É doce, violenta, temerária, audaz... nos faz sorrir e chorar. Esqueceu-se a Autora dos paus e das pedras do caminho e construiu com vagar, tijolo a tijolo.
Tudo o mais não existe, a não ser, o fogo das lembranças da personagem da Autora, que suou, sofreu, trabalhando ao lado dos seus homens, de sua família. Não ficou em casa, estendida, qual uma sinhá. Participou ativamente de todos os momentos de sua vida. Não foi coadjuvante.
Não se envergonhou nem se arrependeu dos momentos vividos, de possíveis erros cometidos, e, em suas recordações vemos que ela fez o melhor no seu tempo, confessou suas culpas e reconheceu os excessos cometidos. Mais justa com a vida impossível.
Os sons que a saudade lhe deixou foram as lágrimas que verteu na solidão.


“ Centelhas ganharam altura, como se
fossem mariposas de prata com asas de ouro...”


Este foi um livro imaginado. Passou dias e horas dentro da Autora até que chegasse o dia em ser exposto. Ela discorreu sobre algo que não viveu, pegou o real do que lhe contaram e juntou ao imaginário que pensou resultando nesta tradução livre de sentimentos.
Mostrou o grande amor que a sua personagem sentiu pela vida e pelos amores de sua vida, maridos e filhos. Mostrou o amor que esta personagem sentiu por fora. Foi assim.

“Dos invernos vividos concluo que a noite passa, termina, mas o que se vive
em uma noite pode perdurar pelo amanhecer e pelo resto da vida”.

Estas são memórias guardadas, intermitentes, vem e vão, porque na vida tudo é assim...
É isso que nos permite suportar os longos dias de ausências e tristezas, e, ao evoca-las, algumas se toldam e viram pó, nisso é magistral o Passagens de Vanda Ferreira porque ela fotografa os detalhes e nos oferece uma obra com detalhes perfeitos da época. Ela viveu a vida de sua bisavó, a protagonista do livro.
E o livro permanecerá, envelhecido pelo tempo e atual pelas lembranças, como as folhas que caem no outono e que renascem na primavera, independentemente do que acontecerá.

“ Senti-me serena. Rezei à
alma de José e de Antonio. Agradeci a Deus pelas asas de ouro que promoveram
vôos seguros aos meus filhos ...”


A memória tem presença física. Houve uma época em que as histórias da protagonista e demais personagens foram uma só e as suas lembranças são estrelas no céu noturno... as árvores reiniciam suas mutações, o ar esta perfumado pelo aroma da terra, e a vida invade o dia.

A lembrança é uma coisa maravilhosa ainda que se tenha de enfrentar o passado, e, nisso PASSAGENS tem o seu desenrolar de forma brilhante.

Da vida nada se leva... Mas, Vanda Ferreira deixa escrito nas páginas de seu livro que perdemos um dia entre vários outros, de outras histórias, com outras lembranças, de outras pessoas, de outras mentes.
Campo Grande-MS, junho de 2011.

*Delasnieve Daspet
É advogada, Poeta, Ativista das Causas da Paz, dos Direitos Humanos, Ambientais e Sociais.
daspet@uol.com.br

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